Mostrar mensagens com a etiqueta Ana Sofia Elias. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Ana Sofia Elias. Mostrar todas as mensagens

# 5302



Semana da moda

Algumas pessoas são como maquilhagem
aplicam eyeliner nas emoções para as alongar.


Fashion week

Some people work like make-up
they apply eyeliner on emotions to elongate them.

Texto | Text: Ana Sofia Elias
Fotografia | Photography: Jelena Stankovic

# 5286



Preliminares
Do primeiro ao quinto instar
dá-me amoreira branca.

Foreplay
From the first to the fifth instar
give me white mulberry.

Texto | Text: Ana Sofia Elias
Fotografia | Photography: Frankie Boy

# 5276



Detonação

Escrevo detonação para poder fingir que uma semana se agarra toda num alfinete
Como um close-up de uma pequena aparição em grande plano
Como se andasse à sombra dos poetas conceptuais híbridos

Se a Carson pode dizer que à terça se faz nuvem, então eu quero dizer musicalmente que há palavras-alfinetes, que com elas se agarra a carne de muita coisa, e agrada-me o exemplo da semana inteira.

Digo detonação.
E sinuosamente mostro que detonei antes que fosse detonada.

E narrativamente digo que o detonar ocorreu assim:
Tu eras uma mosca-drácula
Eu, uma skaterzinha fazendo um 720.


Detonation

The word that marks this week is:
Detonation

I detonated you
before you detonated me.

Detonation went like this:
You were a Dracula horsefly
I was a skater pulling a 720.

Texto | Text: Ana Sofia Elias
Fotografia | Photography: Jelena Stankovic

# 5272



Alpinista

Os meus olhos como pernas bambas
penduradas nas turbinas eólicas
das palavras
a caçar peixes pela garganta do mundo
Todos os meus poemas: alpinistas
que milagrizam os dias.

Alpinist

My eyes, wavering limbs
dangling from the wind turbines
of words—
Hauling in fishes out of the throat of the world.
All my poems: alpinists
summoning the diurnal veil into miracles.

Texto | Text: Ana Sofia Elias
Fotografia | Photography: Elsa Arrais

# 5261



Message in a bottle

A palavra que não posso evocar neste poema
É uma jangada alcalina de pedra pomes com suspensórios.

Nas linhas de fogo,
no fio da navalha
nas costas do tapete
a sangue frio
que assim seja, caritativo: segura-me as calças com a camisa
desfraldada

Pro bono: raspa-me os calos dos ultrajes e infiltrações
até a vesícula do apetite ficar a jeito de todos os destinos
e todos os feitos.

Que assim seja, consumível:
capa de revista
cartaz hollywoodesco
obra fílmica.

Que seja assim, enfeitiçante:
rezas e benzeduras para superstições e crendices.
Que assim seja: belicista.
tubarão encalhado na lagoa
Dá-me pão
Dá-me vinho
e outras coisas viking
talvez auroras boreais.

Mas adiante.
Adiante: que este poema é uma carta e as cartas querem-se ser
breves e explosivas.
Abram alas.


Message in a Bottle

The word I cannot summon in this poem
is an alkaline raft of pumice stone with suspenders.

On the fire lines,
on the razor’s edge,
on the carpet’s back—
in cold blood

So be it, charitably:
hold my trousers up with the shirttails,
unfurled.

Pro bono: scrape the calluses
of spurns and seepages
until the gallbladder of appetite
is poised for all fates and all feats.

So be it, consumable:
a magazine cover,
a Hollywood poster,
a cinematic work.

So be it, bewitching:
prayers and blessings
for superstitions and credulities.

So be it: belligerent.
a beached shark in the lagoon.
Give me bread.
Give me wine.
and other viking things—
perhaps northern lights.

But let’s move on.
For this poem is a letter,
and letters—
ought to be brief
and explosive.
Make way.

Texto | Text: Ana Sofia Elias
Fotografia | Photography: Nadir Social Lens

# 5244



Carta aberta às poetisas

Tu constróis clarabóias no meu telhado
As clarabóias arquitectadas com as tuas palavras
são as mais bonitas
porque têm muitos ninhos de pardais
e uns boulevards agrestes e cremosos
de onde é possível fazer astro turismo

Com a tua poesia
vejo a constelação de Cisne
de Escorpião
de Orion
e outros aglomerados estelares
dentro de mim.


Open Letter to (women) Poets

You build skylights in my roof
no architect ever could.
Carved from your words they bloom —
the most luminous skylights of all
For they hold nesting places for sparrows
and boulevards both wild and creamy,
from which one can go stargazing.

Through your poetry,
I see Cygnus unfold,
Scorpius unfurl its tail,
Orion raise his belt—
and other stellar gatherings
taking root inside me.

Texto | Text: Ana Sofia Elias
Fotografia | Photography: Cristina Vicente

# 5237





Elas, mulheres algodoeiras do mar

Estendidas por uma vasta praia

-com bosques dourados, falésias amaciantes, templos, rios, lagos e estradas sem cavalos voadores ou torangeiras, onde palácios vermelhos, jardins suspensos e torres de cúpulas brancas espelhavam as nossas malváceas damascenas -

Nessa praia, estas palavras.
De musselina tridente
têm-nos presas a nenhum lírio fixo.

Pequenas mordidelas atlântidas
de plâncton saciante
que não ficaram presas ao anzol de frésia.

Deitadas, agachadas, hirtas
como a renda que ainda não madrugou na água
Mulheres algodoeiras do mar
colhem palavras abracadabrantes

O poema acontece na costura a linha de peixe
onde penduram pedras preciosas, quase invisíveis.

E o som é de figo maduro tragado a meia romã
Porque é na Pangeia da manhã
que se provam as despedidas e os orvalhos.


Them, cotton-harvester women of the sea

Spread across a vast shore

—with golden woods, softening cliffs, temples, rivers, lakes,
and roads untraveled by flying horses or grapefruit trees, where crimson palaces, hanging gardens, and white-domed towers
mirrored our damascene mallows—

On that shore, these words.
Of trident muslin,
they keep us bound to no fixed lily.

Small Atlantidean nibbles
of satiating plankton
never caught on a freesia fishhook.

Reclining, crouched, upright—
like lace not yet awakened in water—
Cotton-harvester women of the sea
gather abracadabra-like words.

The poem takes shape along the fishline-made seam
where they hang near-invisible gems.

And the sound is that of ripe fig
swallowed with half a pomegranate—
For it is in each morning’s Pangaea
that farewells and dewdrops are tasted.

Texto | Text: Ana Sofia Elias (com interferência de | with interference by Ana Gilbert)
Fotografia | Photography: Ana Gilbert (com interferência de | with interference by Ana Sofia Elias)

# 5214



Catavento de papel para apanhadoras de tulipas nova-iorquinas


Os buses vermelhos na nuca crespa dos arvoredos carapinhudos

Onde os deuses dão umbigadas aos marsupiaizinhos.

Musseques e mussiros.



Paper pinwheel for New York tulip catchers


Red buses on the curly nape of the bushy treetops

Where gods bump bellies with tiny marsupials.

Musseques and mussiros.


Texto | Text: Ana Sofia Elias
Fotografia | Photography: Ana Gilbert

# 5092



O meu poema é um soutien
Desaperta>{o}<

This poem is a bra
Unhook >{it}<

Texto | Text: Ana Sofia Elias
Fotografia | Photography: Vanda Cristina

# 5090



Confiança
Podes entrar sem mostrar a pulseira no pulso.

Trust
No need to show the bracelet in your wrist.
You can come in.

Texto | Text: Ana Sofia Elias
Fotografia | Photography: Agnes Burger

# 5074



Malha singapura
Ser leiloada para ti durante horas
até o corpo me parar em corrente de malha singapura.
Uma oligarquia virginal mas nada débil.

Singapore chain
To be auctioned for you for hours
until the body collapses in singapore-chain bonds.
An oligarchy: virginal yet not weak.

Texto | Text: Ana Sofia Elias
Fotografia | Photography: Anna Papachristou

# 5071



Assassinato piedoso

Música como pisa-papéis
Esmaga e ordena a rotina.


Merciful murder

Music as paperweight
Crushes and clears up routine.

Texto | Text: Ana Sofia Elias
Fotografia Photography: Vanda Cristina

# 5061



Cóccix

Atraída* pelos* odorantes*
da* tua* mão* no* meu* cóccix*
viro* o* pescoço* para* ver*
a* curva* lombar* rematada* pelos* teus* asteriscos*
em* arrepio* quente*


Coccyx

Drawn* by* the* smell*
Of* your* hand* in* my* coccyx*
I* tilt* my* neck* to* see*
the* lumbar* curve* locked* by* your* asterisks*
in* a* hot* frisson*

Texto | Text: Ana Sofia Elias
Fotografia | Photography: Carolina Geiger

# 4956



Perseidas

Decoro e delírio.
Como um díptico, assim emergiu.

Mas depois o sol de Agosto sensualizou este poema e indeferiu.
E eu reescrevi-o como um tríptico: Decoro, delírio e calidez.


Perseids

This was a diptych: decorum and delirium.
Then the August sun overruled.

Triptych it is: decorum, delirium and apricity.

Texto | Text: Ana Sofia Elias
Fotografia | Photography: Michèle Polak

# 4926



História Verniana
Somos animais olfactivos.
Não foi amor à primeira vista
foi amor-submarinista.

Vernian Story
Olfactory animals we are.
I don’t think it was love at first sight
It was submarine love.

Texto | Text: Ana Sofia Elias
Fotografia | Photography: Mia Depaola

# 4923



Perseidas

Decoro e delírio.
Como um díptico, assim emergiu.

Mas depois o sol de Agosto sensualizou este poema e indeferiu.
E eu reescrevi-o como um tríptico: Decoro, delírio e calidez.


Perseids

This was a diptych: decorum and delirium.
Then the August sun overruled.

Triptych it is: decorum, delirium and apricity.

Texto | Text: Ana Sofia Elias
Fotografia | Photography: Michèle Polak

# 4865



Profético
Quando a Björk toca no meu gira discos
ouve-se uma carta ao futuro: Big time sensuality.

Prophetic stuff
When Björk is on my vinyl player
Future is written a letter: Big time sensuality.

Texto | Text: Ana Sofia Elias
Fotografia | Photography: Ray Meller

# 4852



23 horas, 56 minutos e 4,1 segundos
Trajetória orbital da terra ao redor do sol
E uma hora a mais: das filhas, a rotação
em torno das mães siderais.
Elas: Fitbit analógico.
Nós: corpos ledos.

23 hours, 56 minutes and 4.1 seconds
Earth orbits the sun
and an ancillary hour there we find: that which belongs to daughters orbiting around sidereal mothers
Them: analog Fitbits
Us: contented bodies.

Texto | Text: Ana Sofia Elias
Fotografia | Photography: Ana Gilbert