# 5237





Elas, mulheres algodoeiras do mar

Estendidas por uma vasta praia

-com bosques dourados, falésias amaciantes, templos, rios, lagos e estradas sem cavalos voadores ou torangeiras, onde palácios vermelhos, jardins suspensos e torres de cúpulas brancas espelhavam as nossas malváceas damascenas -

Nessa praia, estas palavras.
De musselina tridente
têm-nos presas a nenhum lírio fixo.

Pequenas mordidelas atlântidas
de plâncton saciante
que não ficaram presas ao anzol de frésia.

Deitadas, agachadas, hirtas
como a renda que ainda não madrugou na água
Mulheres algodoeiras do mar
colhem palavras abracadabrantes

O poema acontece na costura a linha de peixe
onde penduram pedras preciosas, quase invisíveis.

E o som é de figo maduro tragado a meia romã
Porque é na Pangeia da manhã
que se provam as despedidas e os orvalhos.


Them, cotton-harvester women of the sea

Spread across a vast shore

—with golden woods, softening cliffs, temples, rivers, lakes,
and roads untraveled by flying horses or grapefruit trees, where crimson palaces, hanging gardens, and white-domed towers
mirrored our damascene mallows—

On that shore, these words.
Of trident muslin,
they keep us bound to no fixed lily.

Small Atlantidean nibbles
of satiating plankton
never caught on a freesia fishhook.

Reclining, crouched, upright—
like lace not yet awakened in water—
Cotton-harvester women of the sea
gather abracadabra-like words.

The poem takes shape along the fishline-made seam
where they hang near-invisible gems.

And the sound is that of ripe fig
swallowed with half a pomegranate—
For it is in each morning’s Pangaea
that farewells and dewdrops are tasted.

Texto | Text: Ana Sofia Elias (com interferência de | with interference by Ana Gilbert)
Fotografia | Photography: Ana Gilbert (com interferência de | with interference by Ana Sofia Elias)

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