# 2082



"Um homem ia todos os dias ao parque da Vila, depois do trabalho. Levava consigo um saquinho com migalhas que despejava ao redor. Sentia prazer em que os passarinhos, quando o viam, se agitassem voando perto dele, para comer os restos de pão. Um dos passarinhos aparecia sempre. Tinha o bico cor de laranja e as penas muito pretas, raiadas aqui e ali de azul-marinho. Certo dia o homem cansou-se de levar o lanche, por nenhum motivo em especial. Continuava a sentar-se, diariamente, no mesmo banco, sem nada oferecer. Aquele passarinho já não comia, todavia, alegrava-se quando ele chegava. Fazia-lhe voos rentes aos pés e ali permanecia, saltitando trinados. Se quisesse, o homem poderia continuar a mimá-lo, sem perturbação dos seus dias. Escolhia não o fazer, envaidecendo-se com aquela presença. O bicho que nada entendia dos propósitos dos homens continuava a cantar, só para ele, refém da própria liberdade."

Texto: Andreia Azevedo Moreira
Foto: Fernando Silva

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