"Um homem ia todos os dias ao parque da Vila, depois do trabalho. Levava consigo um saquinho com migalhas que despejava ao redor. Sentia prazer em que os passarinhos, quando o viam, se agitassem voando perto dele, para comer os restos de pão. Um dos passarinhos aparecia sempre. Tinha o bico cor de laranja e as penas muito pretas, raiadas aqui e ali de azul-marinho. Certo dia o homem cansou-se de levar o lanche, por nenhum motivo em especial. Continuava a sentar-se, diariamente, no mesmo banco, sem nada oferecer. Aquele passarinho já não comia, todavia, alegrava-se quando ele chegava. Fazia-lhe voos rentes aos pés e ali permanecia, saltitando trinados. Se quisesse, o homem poderia continuar a mimá-lo, sem perturbação dos seus dias. Escolhia não o fazer, envaidecendo-se com aquela presença. O bicho que nada entendia dos propósitos dos homens continuava a cantar, só para ele, refém da própria liberdade."
Texto: Andreia Azevedo Moreira
Foto: Fernando Silva
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