"Cruzámo-nos durante anos sem pecados nem precipícios. Apenas olhares e sorrisos contidos. Fugas sem sentido. Surgiste em frente a mim séculos depois, naquela ilusória esquina da Alexanderplatz, num bem vestido cabaret de memórias em que a Ute Lemper nos encantava cantando lendárias histórias da República de Weimar. Orgasmos contidos. Fugas com sentido. O milénio seguinte apanhou-nos num restaurante chinês, sobrevivendo alegremente a um cataclismo de pato com laranja, sopa de barbatana de tubarão e vinho tinto do Ribatejo. Não sei bem quantos minutos depois, o Roger Hodgson bem tentou convencer-nos de que tudo isto era uma Logical Song, embora nos tivessemos divertido bem mais não sei bem quantos minutos antes. Xutos. Pontapés. Ai se ele cai. Já que ela não. Sigamos em frente. Agora já não sei mesmo nada. Suspeito apenas que o teu voluptuoso e corrosivo bom humor me poderá conduzir até à morte. Imagino-me agora percorrendo novamente essa estrada de amores imperfeitos e rosas brancas que me conduzirá tranquilamente a esse idílico e irredutível cadafalso em que a minha cabeça mergulhará no teu centro do mundo e a minha boca se desintegrará numa metáfora de línguas. Morri mesmo. Não há mais nada a fazer."
Texto: José Alberto Vasco
Foto: Carla de Sousa

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