"Há quanto tempo estamos em obras?
Quais obras?
Estas... o chão coberto de plástico, as paredes esbranquiçadas, as escadas que não me permitem sequer entrar ou sair de casa de tão atoladas que estão.
Está aí esse escadote.
Pois está, por onde é que achas que eu vou, finalmente, sair de casa? Só tenho esta janela para me escapar e, nunca lhe percebi a utilidade, mulher, nunca. Quem abre uma janela numa casa a uma altura inacessível ao vislumbre da paisagem que a rodeia? Quem?
Eu.
Porquê?
Pelo mesmo motivo das obras e do aparecimento repentino desse escadote que sobes, inseguro com a possibilidade da queda.
Isto treme por todo o lado.
Também eu tremia quando ouvia o rodar da tua chave na porta de entrada.
O barulho da minha chave faz-te tremer e tu inicias obras que nos mantêm presos dentro de uma casa sem vista para o exterior. És louca?
Já não. Estás a subir e sei que vais descer para o outro lado. Nessa altura, as obras terão terminado e eu deixarei de tremer."
Texto: Sandrine Cordeiro
Foto: Tânia João

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