# 1665



"Sempre quis passar despercebida, vestia-se de tons escuros e tudo. Até se julgava invisível aos encostos de outros seres da mesma espécie, por vezes, de estatura maior. Era o único argumento com que os desculpava: o campo de visão de quem tem mais de metro e meio. 
Mas apesar de se sentir invisível, foi-se apercebendo que era ela a criadora dessa ilusão. Todos a viam e isso é que, de facto, a incomodava. 
Certo dia, decidiu vestir o casaco da avó, o chapéu da tia da França e o lenço da vizinha. Pintou o cabelo de vermelho ou talvez tenha pedido a cabeleira à prima que está a estudar para ser artista. As cores vibrantes concretizaram o seu desejo: tornou-se despercebida e, no entanto, tão visível a quem estivesse realmente de olhos abertos."

Texto: Sandrine Cordeiro
Foto: Tânia João

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