# 1245



Estado onírico

Numa cidade medieval, cercada por muros de pedra, circulo perdida em labirinto. Sei que não estou só; ele está comigo, em sugerida presença apenas.
Ando, retrocedo, perco-me no temor de ser vista. A morte espreita com seu perigo frio.
Um homem cego esfrega os peixes para tirar-lhes as escamas. O homem cego, de olhos brancos vazados, estampa um sorriso patético, congelado, alheio a tudo, inconsciente do que faz e de si mesmo.
Um gato se aproxima, atraído pelo odor dos peixes. O homem cego toma o gato como se peixe fosse e esfrega o gato/peixe para tirar-lhe as escamas/pele. O gato morre em carne viva e o homem cego sorri em sua máscara grotesca.
Tenho nojo.
De repente, acho-me à porta da cidadela; um caminho ondeia colina abaixo. O ar fresco é como um golpe que me desperta do congelamento asqueroso do homem cego. 
Nessa hora, percebo que escolhi não ser como ele, feliz em seu automatismo insensível.
Corro pelo caminho tortuoso que colina abaixo serpenteia.
Sei que ele vai comigo. Juntos, percorreremos distâncias até encontrar o lugar.


Texto e foto: Ana Gilbert

Sem comentários:

Enviar um comentário