# 1233



"São demasiadas palavras perdidas naquelas que não tiveram a força para se dizerem...
Permanecem gravadas na pele, galopando na minha direção ao partirem de gestos inconsequentes. 
Escritas no ar, invisíveis aos olhos, têm mais poder de derrota do que um qualquer exército armado. Ficam a marcar o tempo, um tempo que se alterou na sua essência, abarcando agora uma nova dimensão.
Por vezes criadas na confusão de pensamentos, são letais na sua insistência de serem ouvidas, demolindo em segundos impérios de paz e amor.
Resistem, lutam e anulam todas as outras, que por delicadeza do seu ser se encolhem acabando por perecer. E perecemos com elas, revelando uma fraqueza que sempre fingimos não existir.
E com elas mirro, torno-me insignificante perante tudo o que fui ou senti. Como se apaga o que se marca no vazio? Como se deixa de ouvir o que ecoa dentro de nós?
Inteira por pedaços que se aguentam, abomino as palavras que fui e sou, e que sofregamente me cercam reduzindo-me a letras incapazes de controlar..."

Texto: Catarina Vale
Foto: Maria João Alves

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