# 4938



Astéria e Leto

Amei-te prodigamente.
Amei-te prodigamente no perímetro overdótico que cabe entre o gostar muito de muito e o tímpano do sol.
O tímpano do sol que te pertencia.
Era de organza toda a prodigalidade do meu amor devasso.

Mas o teu
O teu era pródigo por outros motivos: O tímpano do sol como se em vez de orelhas erguesses dois búzios estetoscópios.
A Yoko Ono disse, experimenta olhar o céu através de um buraco.
E tu experimentaste: O meu corpo, o céu. O céu do meu corpo.

Todos me alcançaram pela materialidade
Tu, ao contrário dos outros; tu, ao contrário de todos, pela estreiteza e celestialidade da trompa de Eustáquio, amaste-me com prodigalidade auditiva.
E é por isso que em todas as viagens de carro eu canto desafinada e desalmadamente sem vergonha ou atrapalhações inibitórias.
Não tenho medo do teu pavilhão auditivo e como uma foca fecho os ouvidos exteriores quando entro no espaço titânico do teu corpo de Céos para ser livre.


Asteria and Leto

I loved you prodigally
Unfolding in the earnest perimeter between my spirited insatiability and the tympanum of the sun
The tympanum of the sun that you borrowed.
Of the prodigality of my lecherous yet uncorrupted love – you only need to know this: it is made of organza.
Your love on the other hand
found its unutterable way into prodigality through the tympanum of the sun as though two stethoscopic sea conchs were erected in lieu of ears.
Yoko Ono once invited us to look at the sky through a hole.
And you did: my body. the sky. the sky of my body.
Materiality: that’s the edge everyone else reached me from.
You, unlike them. You, unlike all others, latched on to me through the Eustachian tube – its narrowness, its celestiality - and loved me with aural prodigality.
Unmatched. Unrivalled.
This is why I find myself singing euphorically and out of tune in every road trip with no hint of awkwardness there to be found.
Your aural pavilion is untriggering and like a seal I plunge into the titanic interstices of your Coeus-like body with my superior ears shut only to be imprinted and free.

Texto | Text: Ana Sofia Elias
Fotografia | Photography: Mariana Costa

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