# 3357




Ivã

Acordo cedo. Espreguiço, lavo, visto, saio.
A paisagem que desliza pela janela do assento que escolhi, desrespeitando à grande o lugar imposto no bilhete, voa e leva-me ao abraço dele. Choramos, rimos, e descemos novas paisagens esvoaçantes e nervosas. O coração não encontra um ritmo capaz de se suportar, a garganta aperta, as pernas tremem.
Boca fora, vamos articulando disparates. Disparates daqueles que, depois de tantos anos verbalizados em intimidades várias, nos fazem querer, desesperadamente, precisar de estar juntos neste dia.
Chegamos à Quinta. Ameaça de vómito, lágrimas a descompasso, ao quase-ritmo do coração que, entretanto, lá encontrou forma de garantir que o resto do corpo se aguenta à missão. Caralho. Estamos mesmo aqui para isto? Dá-me a mão, o braço... dá-me o teu corpo, que o meu não está a saber fazer isto.
Percorremos o caminho: laranjeiras à esquerda, cultivo à direita. Tudo certo. Nada no sítio. Nunca mais nada será igual aqui em baixo.

Texto: Vilma Duarte
Fotografia: Sílvia Bernardino

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