# 5271
Borges
Um cego caminha na praia
É como um gigante vestido de fato e gravata
E sapatos abotoados
Pretos
Vai apanhando palavras que retira como moluscos
Estranhos e salgados
Dentro de uma concha
E que espalha como cascalho
Na areia
Livro ininteligível triturado sob os seus pés
Um cego caminha na praia
Esconde no corpo deformado seres mitológicos
Irreais
Titãs, deusas, medusas marinhas
Que não servem para nada
Segue a voz de um Deus que ecoa nas falésias
Um grito de pedra que o deixa surdo
Um cego caminha na praia
Escreve um poema épico que dita com o cérebro
Absurdo
É como um Ciclope gago exilado no meio de muita gente nua
Monstro desolado na luz crepuscular
Homero invisível com um olho redondo na testa.
Borges
A blind man walks on the beach
He is like a giant dressed in a suit and tie
And buttoned shoes
Black
He picks up words that he removes like mollusks
Strange and salty
Inside a shell
And spreads them like gravel
On the sand
An unintelligible book crushed under his feet
A blind man walks on the beach
He hides mythological beings in his deformed body
Unreal
Titans, goddesses, sea medusas
That serve no purpose
He follows the voice of a God that echoes in the cliffs
A stone cry that leaves him deaf
A blind man walks on the beach
He writes an epic poem that he dictates with his brain
Absurd
He is like a stuttering Cyclops exiled among many naked people
A desolate monster in the twilight
An invisible Homer with a round eye on his forehead.
Texto | Text: Ana Paula Jardim
Fotografia | Photography: Carla Sofia Sousa
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário