Está vento. E eu gosto. É agosto. Mas não demais.
Não me consigo lembrar o que sonhei. Acordei numa poça de suor. Numa confusão de sentimentos e dores no pescoço. As paredes parecem-me mais escuras que o habitual, ainda que já fosse de madrugada. Ainda que tudo estivesse aclarado.
O vento lá fora suave. Percebia-se pela luz dançante das gretas dos estores mal fechados. Pensei se teria viajado novamente. Mas não creio. Não sentia ânsias de voltar a lado nenhum. Queria me lembrar do que tinha sonhado. Queria uma pista para o que sentia. Coçei os olhos e a cabeça, com lentidão. Fechei os olhos o tempo de um suspiro. Profundo. Tentei dormir. Não. Já é agosto. Apetecia-me um café e cair de um prédio de vinte andares.
Arrastei-me até à rua. Cheirava bem o vento. Fiquei ali de pé a olhar. Fixamente. Uma camisa branca presa por duas molas velhas no estendal. Esvoaçava como um trapo velho. Parecia uma bandeira de paz maltratada num céu azul meio adormecido, ainda. Ainda era cedo. Talvez umas sete da manhã. Não havia muitas nuvens. Havia sossego. E o meu cérebro a latejar. A boca seca e o peito vazio. O meu corpo não reagia e ali fiquei talvez uma hora, ou uma vida a olhar para o estendal, enquanto a camisa branca fazia aquela coreografia involuntária de quem se arrasta pelo ar. Sentei-me no chão. Senti a respiração mais ofegante. Apeteceu-me arrancá-la do estendal. Deixá-la ir. Não me apetecia levantar, hipnotizada por aquele Loop estranho. Todo um cansaço. Toda uma apatia. Uma raiva daquele pedaço de pano. Estava vento ainda até dali sair.
Depois acordei. Era cedo ainda, já não consegui dormir nem queria. Já é agosto, pensei. Mais vale levantar-me.
Texto: Andreia Monteiro
Foto: Francisco Válga
Não me consigo lembrar o que sonhei. Acordei numa poça de suor. Numa confusão de sentimentos e dores no pescoço. As paredes parecem-me mais escuras que o habitual, ainda que já fosse de madrugada. Ainda que tudo estivesse aclarado.
O vento lá fora suave. Percebia-se pela luz dançante das gretas dos estores mal fechados. Pensei se teria viajado novamente. Mas não creio. Não sentia ânsias de voltar a lado nenhum. Queria me lembrar do que tinha sonhado. Queria uma pista para o que sentia. Coçei os olhos e a cabeça, com lentidão. Fechei os olhos o tempo de um suspiro. Profundo. Tentei dormir. Não. Já é agosto. Apetecia-me um café e cair de um prédio de vinte andares.
Arrastei-me até à rua. Cheirava bem o vento. Fiquei ali de pé a olhar. Fixamente. Uma camisa branca presa por duas molas velhas no estendal. Esvoaçava como um trapo velho. Parecia uma bandeira de paz maltratada num céu azul meio adormecido, ainda. Ainda era cedo. Talvez umas sete da manhã. Não havia muitas nuvens. Havia sossego. E o meu cérebro a latejar. A boca seca e o peito vazio. O meu corpo não reagia e ali fiquei talvez uma hora, ou uma vida a olhar para o estendal, enquanto a camisa branca fazia aquela coreografia involuntária de quem se arrasta pelo ar. Sentei-me no chão. Senti a respiração mais ofegante. Apeteceu-me arrancá-la do estendal. Deixá-la ir. Não me apetecia levantar, hipnotizada por aquele Loop estranho. Todo um cansaço. Toda uma apatia. Uma raiva daquele pedaço de pano. Estava vento ainda até dali sair.
Depois acordei. Era cedo ainda, já não consegui dormir nem queria. Já é agosto, pensei. Mais vale levantar-me.
Texto: Andreia Monteiro
Foto: Francisco Válga
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