# 2306



"Quando Francisco nasceu, o mundo era feio. Todo escuro e gelado.A terra dura, o mar vazio, o rio morto.
Ao lado do córrego, que antes saciava desejo de bicho, jaziam vacas e bois.
De barriga estufada, tripas arrebentadas, a face coberta de dor. Na rua não havia crianças. Os homens tomados de ódio, tropeçavam no silêncio. Às vezes, um pássaro preto rasgava o céu.
Quando Francisco nasceu, havia muito pouco.
Mas ele cresceu, pegou um canto, botou água, botou planta, botou chão.
Aprendeu a tocar sanfona, assoviou pro pássaro preto e chamou o sol.
Quando Francisco morreu, os homens o sepultaram.
Sem ódio, em silêncio e com um punhado de esperança."

Texto: Lorena Kim Richter
Foto: Sílvia Bernardino

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