# 4418
Enfermaria
Aquela mulher ferida no tronco na enfermaria
Sentada
Braços caídos. Desistentes
Despida. Exposta
Seios flácidos
Sugados pela vida
Olhar fixo. Indiferente
Como uma escultura decadente
Que no fim do caminho somos só carne mastigada numa trituradora
Aquela mulher ferida no tronco na enfermaria
No meio de armários metálicos
Cheios de instrumentos para cortar a dor
Um cheiro intenso a éter a adormecer os sentidos
E muitas seringas em frascos
Desembaladas
Em nós
Aquela mulher ferida no tronco na enfermaria
De cabelos brancos
Desalinhados
Com o rosto e as entranhas enrugadas na pele
E as palavras todas recolhidas
Secas. Por dentro
Já não diz nada
Que no fim do caminho só resta o silêncio e o vocabulário fica gasto
Por baixo da língua
Aquela rapariga parada no meio da enfermaria
Como uma intrusa
Repentina. Imberbe. Franzina
Com uns olhos carimbados na testa
Foge por entre os corredores
Brancos. Desinfetados
Em direção à luz
Na entrada.
Infirmary
That woman wounded in the trunk in the infirmary
Sitting
Arms down. Giving up
Stripped. Exposed
Sagging breasts
Sucked dry by life
Staring. Indifferent
Like a decaying sculpture
At the end of the road we're just meat chewed in a grinder
That wounded woman on the trunk in the infirmary
In the midst of metal cabinets
Filled with instruments to cut the pain
An intense smell of ether numbing the senses
And many syringes in bottles
Unpacked
In us
That wounded woman on the trunk in the infirmary
With white hair
Disheveled
With her face and her guts wrinkled in her skin
And the words all collected
Dry. Inside
No longer says anything
At the end of the road only silence remains and the vocabulary is worn out
Under the tongue
That girl standing in the middle of the ward
Like an intruder
Sudden. Immature. Slender
With eyes stamped on her forehead
Fleeing through the corridors
White. Disinfected
Toward the light
At the entrance.
Texto | Text: Ana Paula Jardim
Fotografia | Photography: Julie Flam
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