# 4390

Homens Altos

Homens altos vivem em casas antigas com tectos baixos
Sempre de costas curvadas
Para caber melhor
Homens altos fumam cachimbos vagarosos
Junto a janelas quadriculadas
Com o jornal dobrado na mesa
E um cálice de aguardente numa mesa
Com açúcar
Homens altos sentam-se em poltronas de pele velha e rasgada
Com as almofadas afundadas com o peso do seu corpo
Homens altos usam anéis grandes nos dedos
E têm mãos enormes
Vestem fatos à medida do alfaiate
E não frequentam as lojas
Por falta de número
Homens altos têm pés compridos e poucos pares de sapatos
Engraxados
E usam chinelos em casa para abafar o som dos passos
Ruidosos
Homens altos são gigantes mudos que cultivam o silêncio
E têm orelhas grandes para ouvir melhor
Deixam os outros falar
Indiferentes
Homens altos têm olhos intensos
Muito verdes e faiscantes
Com a vida inteira afundada numas olheiras profundas
Homens altos não pertencem a lado nenhum
Têm almas imponentes, altivas e exiladas
Não têm pátria nem chão.


Tall Men

Tall men live in old houses with low ceilings
Always with their backs bent
To fit in better
Tall men smoke pipes slowly
Next to checkered windows
With a newspaper folded on the table
And a glass of brandy on a table
With sugar
Tall men sit in old, torn leather armchairs
With the cushions sunk with the weight of their bodies
Tall men wear big rings on their fingers
And have huge hands
They wear tailor-made suits
And don't go to the stores
For lack of a number
Tall men have long feet and few pairs of shoes
Shined
And wear slippers at home to muffle the sound of their footsteps
Noisy
Tall men are silent giants who cultivate silence
And have big ears to hear better
They let others talk
Indifferent
Tall men have intense eyes
Very green and sparkling
With a lifetime of deep dark circles under their eyes
Tall men don't belong anywhere
They have imposing, haughty, exiled souls
They have no homeland and no ground.

Texto | Text: Ana Paula Jardim
Fotografia | Photography: Vanda Cristina