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Talvez

Depressa se esquece que a loucura decidiu conduzir. Segue-se o caminho como se ele sempre estivesse à espera que o começassem a percorrer. A distância sem dilatar, aproximando demasiado a chegada da partida. Contempla-se o mundo pelo vidro que realça as cores quase impossíveis de distinguir. Vemos conforme sentimos. Ziguezaguear que a cada volta inventa uma nova emoção. A viagem da mente a transportar o corpo. Um misto de palavras ditas e tantas outras por dizer, porque a voz desconhece como as fará ouvir. Um riso embrulhado noutro, sons da felicidade que insiste em crescer. O fascínio de um destino que só o é pela presença. Um tempo a alimentar-se de sensações que saciem até ao tempo que virá. Um sabor a relembrar outro, inebriando a alma que no olhar principia a emergir. A diafanidade no mais puro dos encantos. E na pele o aperto que se recusa a cessar, impondo um novo ritmo à pulsação. A cada sonho uma lembrança revestida de fantasia. Talvez sonhar seja a primeira forma de existir…


Maybe

You soon forget that madness has decided to drive. You follow the road as if it had always been waiting for you to start on it. The distance does not grow longer, bringing the arrival too close to the departure. You contemplate the world through the glass that highlights colors almost impossible to distinguish. We see as we feel. A zigzag that invents a new emotion at every turn. The journey of the mind carrying the body. A mixture of words said and so many others unsaid, because the voice does not know how to make them heard. One laugh wrapped in another, sounds of happiness that insists on growing. The fascination of a destiny that is only so because of its presence. A time feeding on sensations that satiate until the time to come. A flavor to remember another, intoxicating the soul that in the look begins to emerge. Diaphanousness in the purest of charms. And on the skin the tightness that refuses to cease, imposing a new rhythm on the pulse. Every dream is a memory coated in fantasy. Perhaps dreaming is the first way to exist...

Texto | Text: Catarina Vale
Fotografia | Photography: Julie Flam