# 4303



Penélopes de Almalaguês

Quando a noite desce e as sombras se espalham nas paredes brancas
Do teu quarto. Como um filme
Ficas deitada dentro do barulho de um tear
De Almalaguês
De pregos, madeira e com pedais
Seguros em cordas
Com elas teces imagens que trazes costuradas nos olhos
Corpos entrelaçados
Sobrepostos e abraçados
Rostos esquecidos
Brilhantes
A sorrir para ti
Amantes imaginários
Em delírio
Com as bocas coladas
E que pulsam no teu corpo com as vísceras todas a vomitar
Flores que esmagas e pisas por dentro
E desabrocham nos teus lábios
Morangos que regurgitas com a alma enfurecida
Golpeada
Vermelha
E os contornos de um perfil que sabes de cor
Refletido
No teto
Cheio de gente estridente
Ao lado
E que projetas para fora
Em fios de trama e urdume
Uns transversais e outros longitudinais
Que se misturam como um tapete caótico
E mãos imaginárias
Todas sobrepostas e sem lançadeira
As coisas impossíveis não sabem tecer tecidos
Nem cores
Nem padrões
São só um ritmo enlouquecido que se bate com os pés
Por dentro
E muitos compassos de espera
Como uma tecedeira enfeitiçada
Penélope amaldiçoada
Sentada num banco.


Penelopes from Almalaguês

When the night descends and the shadows spread on the white walls
Of your room. Like a film
You lie inside the noise of a loom
From Almalaguês
Of nails, wood and with pedals
Secure in ropes
With them you weave images that are sewn in your eyes
Intertwined bodies
Overlapped and embraced
Forgotten faces
Shining
Smiling at you
Imaginary lovers
In delirium
With mouths glued together
And pulsating in your body with their viscera all spewing
Flowers you crush and trample inside
And blossom on your lips
Strawberries that you regurgitate with your raging soul
Beaten
Red
And the outlines of a profile you know by heart
Reflected
In the ceiling
Full of shrill people
Beside
And that you project outward
In warp and weft threads
Some transverse and others longitudinal
That blend together like a chaotic carpet
And imaginary hands
All overlapping and without shuttle
Impossible things don't know how to weave fabrics
Nor colors
Nor patterns
They're just a maddening rhythm that you beat with your feet
Inside
And many bars of waiting
Like a weaver under a spell
Penelope cursed
Sitting on a bench.

Texto | Text: Ana Paula Jardim
Fotografia | Photography: Kika Yuste

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