# 3112



Impulsionada pelo desejo e pela malícia do sabor, Benta colheu uma enorme e tentadora laranja, encaminhando-se para Bernardo e para a outra laranjeira, da qual ele havia também colhido vistoso e estonteante citrino. Trocaram feericamente entre si aqueles diabolicamente encantados frutos da vida e do conhecimento, convidando-se em recíproca mudez a degustá-los, partilhando em conjunto a proeminente raridade daqueles instantes de edénio prazer em que laranjas, vulva e falo se elucubraram em incomparável e épica irmandade. Descascaram enlevadamente as suas faustosas laranjas à mão e saborearam jubilosamente os seus corpulentos, saborosos e sumarentos gomos como se aquela fosse a derradeira oportunidade de concretizar aquele alaranjado onanismo de mistério e suposição. O desenfreado caudal do sumo libertado por aquela desmedida e túrbida devoção escorria-lhes agora pelos corpos nus abaixo, municiando um aqueduto de deleite e veneração que percorrendo lábios, pescoços, seios, sexos, pernas e pés desaguaria luxuriosamente no chão de terra daquele súbito jardim de perversão incontida, inundando-o de tangível e inexpugnável dissolução.

Texto: José Alberto Vasco
Foto: Cristina Vicente

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