# 1986



"Por vezes, o tempo avança tornando os dias em segundos impossíveis de deter. 
- Sorrisos que se propagam da boca ao olhar -
Querer ficar, recusando que a memória se aproprie do que se faz sentir tão real.
- Gargalhadas prolongadas para além do que as fez surgir -
Mas a felicidade só existe no lado veloz da vida. Não lhe basta apenas acelerar o coração.
- Estrelas contadas por corpos fundidos de areia molhada -
Ignora que a tristeza surge num tempo que é possível dilatar. Que é na fugacidade de um momento que se concebe a saudade.
- Luz contemplada no mar -
Vagueamos por ritmos que desejaríamos inverter. Procuramos a eternidade para o que mais se faz sentir, para os instantes que nos encontram e de onde emergimos desprezando as palavras que desconhecem as letras de tamanha sensação. 
- Silêncio do mundo entre frenéticas respirações -
Gravamos na alma o que mais nos marca a pele, transmutando a felicidade em intensa melancolia. Talvez sejamos fábricas de memórias. Olhamos, ouvimos, saboreamos, cheiramos, sentimos para reabastecer lembranças.
É tanto, e só, nas lembranças que existimos. Nós nos outros, os outros em nós..."

Texto: Catarina Vale
Foto: Maria João Alves

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